Para qualquer piloto, existem momentos que são lembrados para sempre.O primeiro pouso, o primeiro solo... Após toda a burocracia necessária, tive a oportunidade de realizar meu primeiro vôo, algo marcante em minha vida, o início do meu sonho. Cheguei no aeroclube com os trinta minutos necessários para o briefing do vôo que seria realizado no Aeroboero AB-115, velho conhecido dos aeroclubes. Encontrei o instrutor que me acompanharia naquele vôo e prosseguimos inicialmente ao PP-GFC, mas com a chegada do PP-GRB, mudamos nossos planos. A aeronave estava com pouco combustível, então pedimos o abastecimento, aproveitando o (longo) tempo de espera para realizar os checks externos. Entrei na aeronave e com a supervisão do instrutor, iniciei os procedimentos para acionamento. Seletoras abertas, bateria Ligada, magnetos ligados, mistura rica. Pressionei o botão "Partida" e Avco-Lycoming O-235-C2A começou a rugir na minha frente. "Pode começar o táxi até a 16". Como nunca tinha feito isso antes, aquela instrução me causou um certo nervosismo, e idéias começaram a surgir em minha cabeça. Sensações parecidas com que vai dirigir um carro pela primeira vez. "E se eu bater em outro avião?". Tomei confiança e subi a potência para que o avião saísse da grama, entrando no concreto do pátio de manobras. Próximo a entrada para a taxiway que me levaria até a pista 16, estava parado um Cessna 152, então prossegui com o máximo de cautela, sempre de olho nas pontas das asas e cheguei na cabeceira da 16. Perna do vento livre, perna base e final livre. Por indicação do instrutor, comecei a praticar minha fonia, anunciando meu ingresso na 16. A decolagem, foi por conta do instrutor (claro, era minha primeira vez). Após a decolagem porém, reassumi as responsabilidades. Rumamos então para o setor Whisky da Replan, subindo para 4500 pés. Por causa do dia quente, o Boero parecia não querer subir. Comecei com algumas curvas pequenas, usando como referência uma nuvem que se destacava no horizonte. Em seguida, coordenação de primeiro tipo, para acertar o conjunto aileron/pedal. Curvas de grande inclinação. Foi o que mais me complicou. Eu tinha a tendência de não compensar a queda do nariz com o leme, e por várias vezes vi o avião embalar e descer. Pude fazer também algumas coordenações de 2° tipo, e até tentar meu favorito do vôo: estol. Rumamos de volta com proa do Shopping D. Pedro, entrando no circuito de tráfego da 16 novamente. Perna do vento, havia outro avião na nossa frente para pouso, então utilizamos uma final mais longa para atrasar nossa chegada. Ingressei na final e perguntei: "Você assume agora?". Instrutor: "Vai levando!" Fui chegando perto da pista, e ao passar por cima da Rodovia D. Pedro, ele assumiu o comando levando o AB-115 a um pouso bem suave. Taxiei de volta ao pátio do aeroclube. Cheque de corte e abandono. Fizemos o de-briefing, onde o instrutor elogiou meu desempenho e iniciativa (acredito que as várias horas no Flight Simulator deram uma ajuda!). Isso foi com certeza um dos momentos mais marcantes de minha vida. Após o vôo, tive aquela sensação de realização que é difícil descrever. Sempre vou me lembrar deste vôo, o primeiro de muitos:
"26/07/2011 - AEROBOERO AB115 / DUPLO COMANDO / 1,1 HORA"