domingo, 29 de maio de 2016

Sinto informar, mas as decisões do seu piloto parecem ser tão irracionais quanto as suas e as minhas

artigo original escrito por Alex Fradera para o BPS Research Digest, traduzido por Adriano Axel
originalmente publicado em aqui. Traduzido por Adriano Axel. Agradecimentos ao BPS Research Digest por autorizar a tradução.

this is a free translation from Alex Fradera’s original article Sorry to say, but your pilot's decisions are likely just as irrational as yours and mine, published by BPS Research Digest. Translated by Adriano Axel. Thanks for the BPS Research Digest for authorizing the translation.

AviãoTempestade
Pilotar um avião não é uma tarefa trivial, mas é quando as condições climáticas se deterioram que as coisas se tornam realmente desafiadoras. Infelizmente, um fator contribuinte para muitos acidentes fatais é quando o piloto comente erros de julgamento quanto a gravidade das condições de voo dentro do mau tempo à sua frente. E agora, em um artigo algo preocupante publicado na Applied Cognitive Psychology, os autores Stepehn Walmsley e Andrew Gilbey da Massey University mostraram que o julgamento que os pilotos fazem das condições climáticas, e as decisões que tomam sobre como responder a elas, são afetadas por três tipos clássicos de viés cognitivo de julgamento. E mais: pilotos experientes são frequentemente os mais vulneráveis a estas tendências mentais.

Os pesquisadores abordaram primeiro o "efeito de ancoragem", que ocorre quando a informação que havíamos recebido anteriormente tem uma influencia indevida sobre nosso julgamento subsequente de uma situação. A um grupo de aproximadamente 200 pilotos (em uma mistura de pilotos comerciais, de transporte, estudantes e pilotos privados) foi dada a previsão do tempo para o dia e então eles olharam para displays com a cobertura de nuvens e visibilidade horizontal tal como se eles estivessem em um cockpit. Deveriam então quantificar estas condições por meio de uma avaliação visual.

Os pilotos mostraram uma tendência de avaliar que as condições estavam melhores - nuvens mais altas e visibilidade maior - quando primeiramente haviam visto previsões favoráveis. Essencialmente, informações anteriores irrelevantes estavam afetando o julgamento das  condições presentes que eles avaliavam com os próprios olhos. No grupo estudado estavam 56 pilotos experts com mais de 1000 horas de voo e estes pilotos se mostraram particularmente inclinados a este tipo de desvio de julgamento baseado em informações anteriores.

Em seguida centenas de outros pilotos leram sobre cenários em que um piloto deveria executar um pouso não planejado. Havia uma pista alternativa adiante mas as condições em rota eram duvidosas. Cada participante deveria resolver cinco desses problemas de pouso, decidindo entre seguir para a pista alternativa ou retornar para a pista de decolagem. Para cada cenário eram fornecidas duas afirmações que eram favoráveis à pista alternativa (por exemplo: "outro piloto voou nesta rota alguns minutos atrás") e uma afirmação preocupante (por exemplo "a visibilidade estava muito baixa"). Para cada cenário, o participante deveria responder qual era a informação mais importante para decidir se iria pousar na pista alternativa ou retornar.

Os participantes não mostraram preferência significativa por nenhum tipo de informação em particular dentre todos os cenários estudados. Isso pode parecer não significativo, mas na verdade é problemático. Quando você está buscando testar uma hipótese, tal como a afirmação "é seguro prosseguir para esta pista", você deveria buscar informações que contrariem a afirmação no sentido de falseá-la. (Para exemplificar a lógica... não importa quantos bombeiros e engenheiros digam que um prédio é seguro e quantos certificados este prédio possua atestando sua segurança... se você vir que ele está em incêndio, não vai entrar nele. A informação de ver o prédio em chamas nega a teoria de que o prédio é seguro e você abandona a teoria.) Assim, os pilotos deveriam priorizar as evidências que contrariam suas teorias sobre as outras, mas na verdade eles apresentaram a mesma tendência para valorizar informações reconfortantes, o que é conhecido como "viés da confirmação".

Em um experimento final mais pilotos voluntários leram sobre decisões que outros pilotos haviam tomado sobre decolar ou não, e sobre as informações que eles usaram para tomar estas decisões. Nas histórias, em alguns casos os voos que decolaram transcorreram bem, mas em outros casos resultaram em quedas desastrosas. Mesmo quando os pilotos nos diferentes cenários haviam baseados suas decisões em informações pré-voo exatamente idênticas, os participantes mostraram maior tendência a avaliar suas decisões como inadequadas nos casos em que o voo terminava em desastre do que nos casos em que tudo terminava bem.

Walmsley e Gilbey mostram preocupação quanto à vulnerabilidade dos pilotos a este tipo de erro - um exemplo do "viés de resultado" - porque isso significa que os pilotos que decidem encarar condições perigosas mas acabam tendo a sorte de nada ruim acontecer acabam interpretando suas decisões como sábias e apropriadas, e tenderão cada vez mais a diminuir o risco avaliado. Lembre-se de que tanto os testes do viés de resultado e do viés de confirmação envolveram um subgrupo de experts, e em nenhum caso estes participantes tomaram decisões melhores que os outros pilotos.

O uso de heurísticas cognitivas e atalhos mentais - o "pensamento rápido" na expressão de Daniel Hajneman - é enormemente útil, necessário para nos ajudar a lidar com as complexidades do mundo no dia-a-dia. Mas quando muita coisa está em jogo, seja em aviação ou em outras áreas críticas como a medicina, estes impulsos precisam ser contrabalançados. A simples conscientização de que todos estamos sujeitos a esses erros lógicos de avaliação já pode ser parte da solução. Outra parte pode ser a introdução de rotinas de trabalho que encorajem respostas mais lentas quando possível, com um raciocínio mais deliberativo. Desse modo, quando os pilotos esquadrinharem os céus, pode ser mais provável que eles identifiquem claramente as nuvens no horizonte.

______________  ResearchBlogging.org
REFERÊNCIAS:

Walmsley, S., & Gilbey, A. (2016). Cognitive Biases in Visual Pilots' Weather-Related Decision Making Applied Cognitive Psychology DOI: 10.1002/acp.3225

Post escrito por Alex Fradera (@alexfradera) para o BPS Research Digest.

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